TESTES GENÉTICOS PARA DIAGNOSTICAR DOENÇAS: vale a pena?

Imagine saber se você tem tendência à obesidade, qual a melhor alimentação e exercício para seu corpo ou quais doenças você tem mais chances de desenvolver. 

Parece algo do futuro, mas tudo isso é o que prometem algumas empresas que realizam testes genéticos e que estão crescendo no Brasil e no mundo através da medicina genômica.

Mas será que realmente são eficazes?

Bom, começo esse texto com a recomendação da Academia de Nutrição e Dietética dos Estados Unidos sobre os testes genéticos para cuidados nutricionais:
“Não há evidências suficientes de ensaios clínicos randomizados sobre a eficácia de incorporar testes nutrigenéticos em aconselhamento ou cuidado nutricional,e relatar resultados dietéticos ou clínicos no momento.”

JOURNAL OF THE ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS – Consensus Report of the Academy 
of Nutrition and Dietetics: Incorporating Genetic Testing into Nutrition Care – March 2021 Volume 121 Number 3

Esses tipos de testes genéticos, oferecidos diretamente ao consumidor, não possuem legislação que os regularize e alguns não são validados para garantir a qualidade, podendo até apresentar resultados errados.

Isso porque esses testes se baseiam, em sua grande maioria, em polimorfismos comparando a resultados de acurácia em populações específicas, uma vez que  a maior parte dos dados genômicos são gerados em países desenvolvidos da América do Norte e da Europa. Mas os polimorfismos em uma população de Minas Gerais podem ser outros para aquele risco de doença. Imagine receber um teste que diz que você tem baixo risco de desenvolver diabetes, quando na verdade é alta. Ou receber um resultado que indique alta propensão a desenvolver câncer ou Alzheimer, mas que o histórico familiar e clínico não indicam essa propensão. Os polimorfismos que aumentam o risco de doenças costumam ser diferentes conforme cada população.

E é aqui que entra a maior questão: existem modelos matemáticos complexos que simulam a interação de todos os polimorfismos, já que alguns podem favorecer uma doença e outros podem proteger de doenças.

Ainda há de se considerar os fatores clínicos, como idade, se já existe um sobrepeso ou obesidade, uso de fumo e bebidas, uso de hormônios, histórico médico. Por isso, o olhar do médico no cenário completo é fundamental para analisar o que o teste genético apresenta.

Muitas pessoas se lembram do caso da atriz Angelina Jolie quando ouvem falar de diagnosticar doenças através de testes genéticos. Pois bem, é importante ficar claro que a atriz fez um exame onde indicava mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2, que estão relacionados diretamente a tumores nas mamas, e optou por fazer o teste pois tinha histórico de câncer de mama na família – um dos fatores que sugerem estudar o DNA para verificação dessa tendência. Em 2013, Angelina Jolie optou por retirar as mamas de forma preventiva após essa descoberta, tendo em todo o processo – da indicação do teste genético à cirurgia – o acompanhamento de um médico.

Os testes que avaliam o genoma devem ser feitos em situações bem específicas — e sempre acompanhados do aconselhamento de um profissional da área.

Mas se você está se perguntando se deve ou não fazer um teste genético para diagnosticar predisposição a doenças ou qual melhor alimentação para seu corpo, leve em consideração que converse com o seu médico primeiro. 

Vale a pena explorar o risco genético de desenvolver doenças através de um exame que, no momento, não consegue ajudar nem na prevenção e nem no tratamento? 

E sobre a alimentação, existem diversas ferramentas mais precisas que podem te ajudar a entender melhor seu corpo, como exames de sangue específicos e a bioimpedância, que auxiliam o especialista a traçar o melhor plano para cada indivíduo. Mas o básico não falha: manter uma dieta variada e equilibrada, fazer pelo menos 30 minutos de atividade física e beber água.

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Fonte:

JOURNAL OF THE ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS – Consensus Report of the Academy of Nutrition and Dietetics: Incorporating Genetic Testing into Nutrition Care – March 2021 Volume 121 Number 3 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32624395/

Testes genéticos: os que dizem ver o risco de várias doenças podem enganar. Autora Lúcia Helena – Coluna VivaBem da Uol – 05/07/2022 https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2022/07/05/testes-geneticos-os-que-dizem-ver-o-risco-de-varias-doencas-podem-enganar.htm?

Teste genético: quando é indicado e quais cuidados você deve ter, segundo médicos. Autor André Biernath – BBC News Brasil – 13/04/2022 https://www.bbc.com/portuguese/geral-61085700

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